Os produtores estão bastante otimistas dentro dessa atividade. Vale ressaltar que um produtor de peixe em Tucumã tem conversado com a gente para abrir uma agroindústria de filetamento de peixe, para abastecer o mercado paraense
Com informações Kelia Santos/ Agência Pará
Distante cerca 30 quilômetros do centro de Marabá, no sudeste paraense, dentro do Projeto de Assentamento 26 de Março, o Sítio Abacaxi Vitória guarda no nome muito da determinação de seu proprietário, Paulo Renê, que há quatro anos deixou de ser motorista na cidade para se tornar produtor rural. Tudo começou quando viu a produção de abacaxi de um amigo. Conseguiu um pedaço de terra (19 hectares) e começou o cultivo do fruto.
Desde o início contou com a assistência da Gerência Regional da Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará) em Marabá. Da fruticultura surgiu a necessidade de ter mais que o “feijão com arroz”. Paulo decidiu criar peixe em cativeiro para o próprio consumo. Mas a produção superou as expectativas, e hoje ele já comercializa várias espécies.
“O peixe começou porque eu precisava de algo para me alimentar. Então, despertou o interesse por fazer os tanques. A gente começou com um tanque, e hoje estamos com três. Nossa produção é estimada em uma tonelada e meia por ano, em cada tanque. Crio várias espécies, como tambaqui, pirarucu, surubim, pintado e tilápia. Durante a Semana Santa vou comercializar 1.500 quilos na feira do peixe em Marabá, e com os vizinhos”, informou o agricultor.
Assim como Paulo Renê, outros produtores estão aproveitando esta época do ano, quando aumenta o consumo de peixe, para vender a produção. Dentro do calendário da Semana Santa, a Gerência Regional da Emater e a Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), com apoio dos municípios, realiza de quinta-feira (29) a domingo (1º), a Feira do Pescado em Redenção, Xinguara, Água Azul do Norte, Tucumã e São Félix do Xingu, no sul do Estado. Segundo o gerente regional da Emater em Conceição do Araguaia, Luiz Flávio Cavalcante, a previsão é que sejam comercializadas 10 toneladas de várias espécies, como caranha, tambaqui, piau-açu e pirarucu.
Assistência técnica – Na trajetória de ex-motorista a próspero produtor rural, Paulo Renê tem o acompanhamento do engenheiro agrônomo Weberson Rocha, extensionista rural da Emater. Segundo o engenheiro, a produção de peixe em cativeiro vem crescendo, mas muito produtores ainda esbarram na manutenção dos alevinos.
“A piscicultura aqui na região sudeste, especificamente na microrregião de Marabá, tem crescido bastante. Mas essa cultura exige alguns cuidados, como verificar se há disponibilidade de água e se o terreno é propício para construção de tanques. O maior entrave não é conseguir os alevinos, mas a manutenção deles, já que a comida representa mais de 80% do custo de produção. Para baratear o preço da ração, uma saída seria a parceria com grandes produtores, o que possibilitaria a compra direto da fábrica ou a criação de cooperativas”, explicou Weberson Rocha.
Apoio do governo – Os produtores de peixe em cativeiro que recebem apoio do governo do Estado conseguem os alevinos por meio da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca. O gerente regional da Sedap, Daniel de Sá, informou que a entrega é feita de acordo com a demanda de cada município. Entre os que mais solicitam alevinos estão Itupiranga, São Geraldo do Araguaia, Palestina do Pará, São Domingos do Araguaia e Curionópolis.
“O Estado, através da Secretaria, implementou algumas atividades. Primeiro é organizar o setor produtivo, em especial a agricultura familiar, para ver se o produtor tem vocação para a piscicultura, dando suporte, por meio dos municípios, na escavação dos tanques, e depois com a distribuição de alevinos. Em Terra Alta (município do nordeste paraense) há a produção desses alevinos. Em cada etapa, conforme a programação, podem ser demandados de 20 a 30 mil alevinos”, acrescentou o engenheiro agrônomo.
Sobre o crescimento da produção de peixe em cativeiro, o gerente regional da Emater em Marabá, Francisco Ferreira, destacou boas experiências na região. “Em relação à piscicultura, trabalhamos com a demanda espontânea. Os agricultores nos procuram, e nós ajudamos com a assistência técnica. Temos boas experiências de produção do peixe em Bom Jesus do Tocantins, Palestina do Pará, Goianésia do Pará, Marabá, Tucuruí e Breu Branco”, disse o gerente.
Valor agregado – Quem também registra bons resultados é a Emater em Conceição do Araguaia. De acordo com o gerente Luiz Flávio Cavalcante, só em 2017 mais de 200 produtores de peixe receberam assistência da unidade regional. “A piscicultura no sul paraense, que vai de Conceição até São Félix, tem uma importância muito grande. A Emater tem estado presente na assistência técnica aos aquicultores, possibilitando um alto valor agregado. Os produtores estão bastante otimistas dentro dessa atividade. Vale ressaltar que um produtor de peixe em Tucumã tem conversado com a gente para abrir uma agroindústria de filetamento de peixe, para abastecer o mercado paraense”, informou.
Segundo o extensionista Weberson Rocha, tanto a Emater quanto a Sedap têm participado de vários fóruns com o objetivo de impulsionar a verticalização do pescado na região. Já é certo que pequenos produtores, como Paulo Renê, querem aumentar a produção. Por meio da Emater, ele foi inserido no Programa Rural Sustentável, e está confiante na obtenção de crédito para ampliar a criação de peixe e investir em outros produtos.
“O sentimento é de felicidade e de sonho realizado. Além de ajudar a colocar o alimento na mesa do povo, eu também disponibilizo na minha mesa produtos de qualidade”, declarou Paulo Renê.